A educação financeira que recebi recomendava poupar o que pudesse e investir com o menor risco possível. À medida que comecei a ganhar dinheiro, estudei mais sobre o tema e ensaiei pequenos passos rebeldes, como tirar da poupança e investir em renda fixa. Eu nunca vou esquecer aquele dia. Eu estava com tanto medo do meu pai dizer: “Eu te disse, nunca brinque com dinheiro!”

Muitos anos se passaram e hoje, após erros, acertos e muito aprendizado – sobre investimentos e também sobre meu comportamento de investidor – tenho um portfólio bastante diversificado, com propósitos específicos para cada tipo de investimento. Todos eles exclusivamente para fins financeiros. Excepto um.

Eu invisto em startups como investidor anjo. Um tipo de investimento que não se justifica se for apenas para ganhar dinheiro.

Gosto de dizer que investidor anjo é alguém que coloca parte do bolso, da mente e do coração no negócio de outra pessoa, esperando ter algum tipo de retorno nessas três dimensões.

Esse assunto começou a me interessar desde que eu era empresário. Há alguns anos, deixei uma carreira corporativa de sucesso para abrir uma empresa. Como ex-executivo e depois empresário pensei continuamente na nossa estratégia de financiamento, ou seja, de onde viria o dinheiro para investir na empresa?

Ao longo dessa experiência e depois, como mentor e investidor, tive a chance de conhecer mais sobre as formas mais comuns de financiamento de startups. Eles não são os únicos, não são exclusivos e podem mudar ao longo do tempo, dependendo do estágio da startup.

(1) Recursos próprios :

os sócios investem seu próprio dinheiro para iniciar o negócio e, a partir de certo momento, a empresa se financia com seus próprios resultados. Geralmente é chamado de bootstrap . O financiamento é limitado pela capacidade financeira dos sócios e pela capacidade da empresa de gerar resultados rapidamente, ou seja, atingir o ponto de equilíbrio e começar a gerar lucro suficiente para permitir o reinvestimento.

(2) Investimento anjo:

geralmente uma pessoa que conhece o negócio ou mercado em que a start-up opera. Muitas vezes um (ex)executivo daquele setor, uma pessoa que tem contatos e pode abrir portas e tem interesse em investir seu próprio dinheiro. O anjo então traz capital, experiência e conexões, o tipo de investimento que chamamos de smart money, para se diferenciar de um investidor que coloca apenas dinheiro.

(3) Fundos de capital de risco:

eles investem dinheiro de outras pessoas e, portanto, podem investir mais dinheiro no start-up. Poucos trabalham no estágio inicial porque é mais difícil investir o dinheiro de outras pessoas em uma fase de risco tão alto. Geralmente o relacionamento é entre os fundadores e o gestor do fundo e não direto com os investidores.

Com base na minha experiência e na de meus amigos, percebi que as startups estavam tentando sobreviver com recursos próprios – o que pode não funcionar para todos os tipos de startups – ou estavam tentando investir com VCs (Venture Capitals). E isso significava muito tempo investido, pouco conhecimento de como funcionavam os VCs e muitos negócios não fechados. Um processo muito frustrante para quem precisa usar seu tempo de forma eficiente.

O investimento anjo na época era uma questão de sorte. Era preciso ter a sorte de conhecer alguém da área, que se interessasse pela start-up, que tivesse capital para investir, que assumiria esse nível de risco e tivesse possibilidade e disponibilidade para ajudar. Realmente muita sorte necessária!

Quando comecei a orientar startups individualmente ou em programas de aceleração, conheci muitas pessoas interessantes com negócios ou ideias incríveis que precisavam de ajuda. Percebi que poderia ajudar mais e me comprometer mais com a empresa. Meus investimentos já eram bastante diversificados, com parte da minha carteira alocada em ativos de alto risco. Então, essa questão de mentalidade de risco não foi um problema.

"Estava disposto a investir em start-ups, mas também tinha muitas dúvidas sobre como começar, como fazer acontecer?"

Muitas eram as perguntas na minha cabeça: como identificar uma start-up em que acredito e que possa se beneficiar da minha experiência, networking e investimento? Como avaliar? Quanto investir? Quais são os instrumentos contratuais para um investimento anjo? Como acompanhar o negócio após o investimento?

Depois de muitas conversas identifiquei algumas possibilidades de investir como anjo:

1. Individualmente em uma oportunidade:

um (ex) empresário ou executivo conhece uma start-up que precisa de investimento. Eles conversam, chegam a um acordo e celebram o negócio (procedimentos e detalhes do negócio). Nesse caso, desde a decisão de investir até o contrato de investimento e depois, o acompanhamento do start-up e a avaliação do desempenho do negócio, tudo é feito apenas pelo investidor anjo.

2. Coletivamente em uma oportunidade:

um grupo de investidores anjo avalia coletivamente algumas start-ups e os interessados ​​em uma oportunidade específica formam um grupo menor que negocia com a start-up e divide o investimento entre os membros. Esse grupo então se organiza para avaliar, negociar e depois acompanhar e apoiar a startup.

Aqui o risco é diluído com outros anjos, mas apenas nessa oportunidade. Se, por exemplo, um anjo quiser diversificar seus investimentos, ele pode compor um grupo com outros três para investir em uma startup e com outros oito para investir em outra. Mas então ela terá que gerenciar essas interações.

3. Coletivamente no portfólio:

um grupo de investidores decide somar seu potencial de capital e investir em uma carteira de start-ups. Eles avaliam e decidem os investimentos juntos. Cada startup aprovada é investida pela sociedade e não por alguns anjos. Todas as etapas, desde a triagem de startups até os contratos de investimento, passando pelo acompanhamento das startups, negociação de follow-ons e saídas são feitas pelo grupo.

Hoje eu invisto coletivamente em carteiras. Além da dupla diluição do risco, há outro motivo que foi decisivo.

Somos uma comunidade: trocamos, aprendemos, ensinamos, compartilhamos informações, fazemos eventos virtuais ou presenciais para falar de negócios, mas também de vida.

Empreendedores que querem dinheiro de qualidade para financiar suas start-ups. Anjos que querem retorno financeiro, contribuindo para ecossistemas de inovação. Utilizando seu capital intelectual, social e profissional e aprendendo com os protagonistas, empreendedores.


(*) Originalmente publicado em https://blogcintiamano.wixsite.com/cintiamano

Cintia Mano é investidora anjo na REDangels e COREangels Atlantic, e também empreendedora, mentora e palestrante.